Grutas de Benagil

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As grutas de Benagil foram o maior motivador para que colocasse o Algarve no meu roteiro de visita a Portugal. Tenho paixão por cavernas desde 2006, quando pela primeira vez visitei uma caverna. Na época passei 6 dias com espeleólogos no complexo de Terra Ronca (extremo norte de Goiás) o maior da América Latina. Não há o que se comparar. Cada uma é cada uma. Mas não deixa de ser curioso como uma experiência nos molda e abre para outras e como no fim, nesta aventura que é viver, tudo se soma. Viver é bom.

Um Pé de Milho

“Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro – e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um anteiro, espremido, junto do portão,numa esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarram ao chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor do meu pé de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem.É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.”
(Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas, 2001. Adaptado)

Play to Run: Sam´s Town

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Decidida a diminuir a importância das playlists de corrida e me dedicar à procura de bons álbuns que funcionem inteiros nos treinos, abro a série Play to Run por este clááássico dos primórdios da divulgação da música na internet. Bons tempos!

Tinha o palpite de que o Sam´s Town do Killers (2006) daria certo. E deu. Até porque, sempre usei duas faixas lindas dele como powersongs: ´Read my Mind´ e ´Bones`.  O disco tem cerca de quarenta e quatro minutos e se adequa perfeitamente a um curtinho com velocidade média pra alta. Selo Run to Play de aprovação!

Nota sobre as redes sociais

Quase 15 anos de nossa entrada massiva nas redes sociais e elas nunca se pareceram tão afastadas daquilo que almejamos na vida e tão antiquadas quanto agora. A  rede social com que sonhamos – como espaço de vivência e atuação – deve assemelhar-se às cidades e refletir as causas pelas quais lutamos. A rede deve conectar espaços livres (sites) assim como as ruas conectam os sítios.

Discursamos pelo fim dos condomínios e centros comerciais fechados, pela queda dos muros e grades e pela livre expressão de pensamento, mas aceitamos gerar conteúdo grátis  para uma rede que lucra com eles, te cobra para que tenham alcance e tudo o que te oferece de contrapartida é um cubículo de 12m² para morar, em ruas limitadas para circular.

Um cubículo dentro de um feudo. Censurado. Irreformável. Inexpansível. Sem janelas. Com banners de anunciantes em todas as paredes e dentro do qual, se você precisar acessar qualquer objeto de sua propriedade, conta com a mais parca ferramenta de busca. Acessar propriedades alheias, então, somente sob sua tutela.

Assim como sonhamos com uma cidade livre, segura, com espaços de moradia, trabalho e lazer acessível a todos,  devemos sonhar com uma rede honesta que nos conecte às pessoas, iniciativas e empresas segundo o nosso próprio filtro. Uma rede na qual nossos ‘perfis’ sejam nossos sites, com nossos conteúdos, nossos servidores, nossos anunciantes, nossos produtos e nossas escolhas. Seguimos sonhando, pois é da matéria de que somos feitos e seja nas cidades, seja na rede social, isto ainda é de graça.

Notas sobre dois guardanapos



Estes de Buenos Aires (2014). Que brasileiro vai à argentina pleno período de copa do mundo no Brasil? Eu mesma! Confesso que com sorte fui antes do 7×1 e o clima com os argentinos, como sempre, muito cordial. 

O Arenales descobri passando na porta. Queria jantar bem. Vi que tinha toalhas de linho e taças. Entrei. Me lembro de ter comido uma paeja muito boa. Se não me engano este restaurante cobrou na conta uma taxa pelos talheres. Não conhecia esta prática, mas depois pesquisei e soube ser algo comum. 
O guardanapo do Capriati eu guardei mais por uma questão sentimental. Ele estava ao lado do hotel na Corrientes e por ser 24h salvou a vida por diversas noites. Eu tomava sempre Guaraná Antártica pois o garçom achava que era o que eu queria por ser brasileira. Saudade. 

O Segredo do Bonzo – Machado de Assis

Notas sobre um texto que vira e mexe retorna à pauta dos meus pensamentos sobre equilíbrio do ser social que sou e o tempo de reclusão necessário ao acúmulo e processamento de informações, conhecimento, cultura.

” -Haveis de entender, começou ele, que a virtude e o saber, têm duas existências paralelas, uma no sujeito que as possui, outra no espírito dos que o ouvem ou contemplam. Se puserdes as mais sublimes virtudes e os mais profundos conhecimentos em um sujeito solitário, remoto de todo contacto com outros homens, é como se eles não existissem. Os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e plantas bravias, e, se ninguém os vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador.

Um dia, estando a cuidar nestas coisas, considerei que, para o fim de alumiar um pouco o entendimento, tinha consumido os meus longos anos, e, aliás, nada chegaria a valer sem a existência de outros homens que me vissem e honrassem; então cogitei se não haveria um modo de obter o mesmo efeito, poupando tais trabalhos, e esse dia posso agora dizer que foi o da regeneração dos homens, pois me deu a doutrina salvadora.”

***e nos fones Bruce Springsteen canta 4th of july

A natureza das coisas – Flávio José

Por motivos mais competentes à indústria fonográfica e menos a mim, assisti ao filme A Máquina (2005) no cinema. Da leva de produções com a cara de João Falcão (O auto da compadecida e a Comédia da Vida Privada), a Máquina não fica a dever nada seja em adapção de roteiro, seja no resultado estético.

O elenco estrela lindamente Paulo Autran, e posso estar enganada, mas creio ser se não seu último, um de seus últimos filmes antes de sua morte. Lázaro Ramos, amor eterno desta casa e destaque para o protagonista Antônio – Gustavo Falcão, desconhecido ao menos por mim até então.

A Máquina marcou o momento de construção de uma das relações amorosas mais importantes da minha vida e esta introdução seja talvez e apenas feita para não desmerecer o filme. O filme vale o que vale, mas para mim, por isto, vale muito mais.

Hoje eu – que  por motivos adversos truquei um chat com uma canção da trilha: A Natureza das Coisas (Flávio José interpretada por Prazeres Barbosa) – cá estou a ter um dia marcado por esta bela experiência estética. Segue a letra.

Se avexe não Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada
Se avexe não
A lagarta rasteja até o dia
Em que cria asas

Se avexe não
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa
Se avexe não
Amanhã ela para na porta
Da sua casa

Se avexe não
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá

Se avexe não
Observe quem vai subindo a ladeira
Seja princesa ou seja lavadeira
Pra ir mais alto vai ter que suar

La Sapienza

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Dentre tantos aspectos que eu, arquiteta, poderia destacar nesta película de Eugène Green em termos de locação, percepção, promenade achitecturale, do uso da luz e do próprio espaço arquitetônico como base narrativa, quero destacar aqui só e somente só a paleta de cores do figurino. O que na verdade não é pouco.

Salvo por raríssimas exceções, todos os personagens têm suas roupas compostas de tons de marrons e/ou azuis. Confesso que nunca antes havia feito muita atenção a esta combinação de cores nas minhas próprias composições e confesso que estou de certo modo ansiosa para experimentar neste sentido nos meus looks do dia.

O resultado desta combinação de figurinos com a paisagem não é menos sublime que os demais aspectos deste filme pensado nos mais mínimos detalhes: azuis e marrons são um mimetismo telúrico-celeste das terras firmes italianas com o mar.

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Notas sobre um tempo triste, as artes e a subjetividade

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Vivemos tempos difíceis. E como testemunho basta olhar o que ficará escrito na história político-econômica e social do Brasil neste início de 2016. Como um contraponto de tudo isso, registro algo com que me deparei – este guia gráfico de audição da nova temporada 2015/2016 de Concertos da Orquestra Sinfônica de Toronto – e sobre algo tão sensível refleti e tomei algumas notas.

Sou apaixonada por observar em uma pessoa – desde sua programação genética a como suas experiências a desenharam – sua gama de sensibilidades e modo de recepcionar os estímulos que a cercam. Tenho amigos que nunca choraram em cinema, mas se derretem e escorrem pelo ralo diante de uma tela ou escultura. Alguns se lixam pra literatura, mas se conectam com o que as letras produzem em biografias e até mesmo em produção científica. Há os que caem aos prantos em shows. Quase todos.

As formas de arte – em suas mais diversas linguagens – me estimulam muito os sentimentos, mas, constitucionalmente, tenho formação plástica da infância à academia. A música é igualmente estruturante pra mim mas muito mais como consumo e quase nada como produção. Para muito além da experiência subjetiva, ela é o guia de praticamente toda a minha vida social e você, que lê isto, provavelmente está na minha vida por causa dela.

Quando mais me conectei cognitiva e não apenas sentimentalmente com o som, foi com o auxílio de recursos gráficos. Não é uma linguagem a qual eu domine ou mesmo compreenda, mas os movimentos dos regentes fazem todo o sentido pra mim. Em 2013, num concerto do Sesc Instrumental Consolação, Tom Zé nos fez a generosidade de mostrar espacialmente como compõe suas canções enquanto as executava. E assim fez uma analogia entre o tempo de entrada dos instrumentistas e os cômodos de uma casa.

O ideal, me parece, é que cada vez mais façamos o exercício de receber o que seja a linguagem artística de forma não compartimentada e abrir a percepção com base nas ferramentas de que dispomos. A imagem acima trata exatamente disso.

Hoje, como certificação de sanidade, passarei o dia ouvindo e desenhando música numa gratidão imensa pelos que transcendem e que produzem coisas como esse guia de audição [não deixe de observar e dedicar um tempo a ele, tem mais neste link]. Gratidão pelos que produzem peças de arte que atravessarão os tempos e falarão daquilo que é propriamente humano.

Eu sei que tenho sorte de poder fazer isso e que você também a tem. Eu sei que devemos lutar para que todo ser humano – até o último de nós – também possa. Eu se insisto na temática é com a licença da citação ouvida por  Susan Sontag quando montou Esperando Godot na Bósnia desmoronada de 1993: ‘Precisamos mostrar ao mundo que não somos animais’.

Nota sobre esperar por um show

No que tange toda a ritualística que é esperar por um show, eu considero que a melhor parte dela está no aprofundamento da obra daquele artista: nas pesquisas que fazemos, nas audições sistemáticas, nas novas descobertas, nas revisitas e naquilo que se descobre de novo dentro velho. Se o calendário for suficientemente generoso para que tenhamos tempo para isso, tanto melhor.

Me parece que 2016, neste sentido, nos será memorável como o ano em que tivemos tempo para Wilco. A rede social colide, facilita, retroalimenta e faz um nicho parecer o mundo inteiro e neste caso, a nosso favor. Que este ano seja como foi aquele 2013 para Bruce Springsteen ou 2010 para Teenage Fanclub. A lista é infinita. Os estudos são infinitos. Nossa paixão? Rá! Inifinita!

Se eu conto com as redes sociais nesta histeria coletiva, surra de posts e descobertas na consolidação de um ideário ainda mais sólido desta coisa maravilhosa que nos une, que é a música? Eu conto muito.

Duas ou três notas sobre Fantastic Planet (1973)

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1-Esta animação de René Lasloux utiliza recursos de desenho em stop motion e custa-me acreditar que tenha sido feita em 1973 e não em 2016.

2- A trilha sonora é  intensa com guitarras, baixos e graves muito fortes. Instrumental porém bem diversa do que se faz em animação, pois, um pezinho ali no rock psicodélico e outro no clássico. Li que ela foi composta Alain Goraguer que é um pianista jazzista francês nascido em 1931.

3 – O apelo visual me levou na hora aos traços de Maurice Sendak em Onde Vivem os Monstros (1964), às cores de Moebius e àquela atmosfera de sonho e fantasia do encarte do Mellon Collie and Infinity Sadness (1995).

4- O clima de futuro do pretérito tem referências inegáveis nas alegorias de Le Voyage dans la Lune (1901), nos espaços arquitetônicos propostos pelo Archigram (1960)  nos relatos de Ray Bradbury em Crônicas Marcianas (1950) que só li sob muita insistência da minha irmã e superadas as projecões ingênuas de um futuro num planeta que nunca será, ri muito.

5- Com relação ao roteiro não há como não fazer ligação direta com o Planeta dos Macacos ou quaisquer outras teorizações conectadas à panspermia cósmica.

Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo

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O trecho que copio a seguir, de David Foster Wallace, vem em um momento de profunda reflexão pra mim em que tenho filtrado cada vez mais as informações que irei consumir e nos pensamentos aos quais vou me ater. É sobre ‘estar consciente e atenta o bastante para escolher em que prestar atenção e escolher a maneira de construir significado a partir da experiência.’

“O emprego de historinhas didáticas com ar de parábola é um requisito padrão os discursos de paraninfo. Mas se acham que pretendo me colocar na posição de peixe mais velho e mais sábio que explicará o que é a água para vocês, os peixinhos, por favor não temam. Não sou o peixe velho e sábio. Minha intenção com a historinha dos peixes é simplesmente mostrar que as realidades mais óbvias, onipresentes e fundamentais são com frequência as mais difíceis de ver e conversar a respeito […]

Tem dois caras sentados num bar nas profundezas remotas do Alasca. Um dos caras é religioso, o outro é ateu, e eles estão discutindo a existência de Deus com aquela intensidade característica que surge lá pela quarta cerveja. Aí o Ateu diz: ‘Olha, não é que me faltem motivos concretos para não acreditar em Deus. Não é como se eu nunca tivesse experimentado essa coisa toda de Deus e orações. Agora mesmo no mês passado eu estava longe do acampamento quando fui pego de surpresa por aquela nevasca terrível, não conseguia ver nada, fiquei totalmente perdido, estava 45 graus abaixo de zero, e aí decidi tentar exatamente isto: caí de joelhos na neve e gritei: ‘Oh, Deus, estou perdido nesta nevasca e vou morrer se você não me ajudar!’ Aí o sujeito religioso encara o ateu, todo intrigado: ‘Bem, depois disso você deve ter começado a acreditar’, ele diz, ‘afinal e contas você está aqui vivo’. O ateu revira os olhos, como se o religioso fosse um tremendo paspalho: ‘Não, cara, só aconteceu que uns esquimós apareceram do nada e me mostraram para que lado ficava o acampamento’.

E o suposto ‘mundo real’ nunca desencorajará vocês de operarem nas configurações padrão, porque o suposto ‘mundo real’ dos homens, do dinheiro e do poder avança tranquilamente movido pelo medo, pelo desprezo, pela frustração, pela ânsia e pela veneração do ego. Nossa cultura atual canalizou essas forças de modo a produzir doses extraordinárias de riqueza, conforto e liberdade pessoal. A liberdade de sermos senhores de reinos minúsculos, do tamanho dos nossos crânios, sozinhos no centro de toda a criação. Esse tipo de liberdade tem seus méritos. Mas é óbvio que há liberdades dos mais variados tipos e no vasto mundo lá de fora, onde o que importa é vencer, conquistar e se exibir, vocês não ouvirão falar muito do tipo mais precioso de todos. O tipo realmente importante de liberdade requer atenção, consciência, disciplina, esforço e a capacidade de se importar  genuinamente com os outros e de se sacrificar por eles inúmeras vezes, todos os dias, numa miríade de formas corriqueiras e pouco excitantes. Esta é a verdadeira liberdade. Isto é ter aprendido a pensar. A alternativa é a inconsciência, a configuração padrão, a ‘corrida de ratos’ – a sensação permanente e corrosiva de ter possuído e perdido alguma coisa infinita […]

A verdade com V maiúsculo diz respeito à vida antes da morte. Diz respeito a chegar aos trinta, ou quem sabe aos cinquenta, sem querer dar um tiro na cabeça. Diz respeito ao valor real de uma verdadeira educação, que não tem nada a ver com notas e diplomas e tudo a ver com simples consciência – consciência daquilo que é tão real e essencial, que está tão escondido à luz do dia que onde quer que se olhe que precisamos repetir para nós mesmos a todo momento: ‘isto é água, isto é água; estes esquimós podem ser bem mais do aparentam’. É incrivelmente difícil fazer isso, ter uma vida consciente e adulta, dia após dia. E com mais um clichê se prova verdadeiro: a nossa educação leva mesmo a vida toda, e ela começa: agora. Desejo a vocês, muito mais que sorte.”

David Foster Wallace em “Isto é Água”, publicado no Brasil pela Companhia das letras na coletânea  de ensaios Ficando Longe do Fato de já Estar Meio que Longe de Tudo

‘A ironia está arruinando nossa cultura’

Não é novo e linko aqui um texto muito sério que fala de algo que tanto me interessa, preocupa e que venho tentando combater (ao menos pessoalmente) que é de como o uso da ironia nas artes e demais expressões humanas vem arruinando com a nossa cultura.
É bonito porque ele apresenta David Foster Wallace como exemplo de alguém que chamou a atenção para uma forma de arte que se redime ao invés de ridicularizar e, como alguém que evocou uma volta esperançosa de artistas ´não-rebeldes´ (na acepção já gasta do termo) que cortassem com o tom de cinismo e ironia, pactuando com o sentimentalismos, credulidade e suavidade.
Fala de como a ironia foi sim uma forma encontrada de se contestar os padrões estabelecidos, mas, que hoje ela se tornou ele próprio. A atitude irônica vem sendo usada como ferramenta para fazer com que um grupo se sinta mais esperto que outro, já que pedir para que um irônico explique aquilo que está dizendo, causa enorme constrangimento. Desta forma acabamos diante de uma situação em que se interdita uma questão sem poder tratar do assunto em si. É uma carapaça de proteção contra a possiblidade de parecermos ingênuos.
Numa época em que sucesso é medido por popularidade e vê-se pornografia desenhada, pinturas fluorescentes e sprays de espuma que são todos confundidos com arte simplesmente porque os artistas acreditam que a busca cega pelo prazer poderia parecer perspicaz: simplesmente porque carregadas de ironia. Precisamos focar em uma grande arte que assuma a responsabilidade de tornar reais os nossos sonhos e a aspirar pela grandeza em termos de desafiar as convenções e elevar o espírito humano.
Estas observações uma tradução livre desmantelada e interpretativa do texto, este sim, maravilhoso e são de minha inteira (i)responsabilidade e descuido.

O Triunfo da Cor – CCBB SP

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A exposição em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil denominada Triunfo da Cor reúne obras do período convencionado como pós-impressionismo – fim do século XIX – e tem um total de 75 obras de 32 artistas.

Vi quadros os quais jamais sonhei veria no Brasil. Tons de rosa, roxo, pastéis e pinceladas tramadas e pontilhadas que qualquer reprodução jamais chegará perto de representar.

O Eduardo Nasi num ato generoso bem típico de si, se deu ao trabalho de reunir todas as obras expostas em board do Pinterest aqui e serve como um belo registro desta mostra.

O lugar mais longe que existe

Quando crianças, a minha irmã mais nova sempre fugia de casa e era encontrada pelos vizinhos, ou pela polícia, nas pracinhas ou brincando nos playgrounds de prédios da região. Certa feita, ela perguntou pra nossa mãe qual era o lugar mais longe que existia. Japão, disse ela. Depois desse dia a Nati sempre dizia que queria ir embora pro Japão. A vó Clara, percebendo do que se tratava, disse a ela que não importaria para aonde fôssemos, poderíamos nos livrar de várias pessoas e até de alguns problemas, mas não daquilo que era o mais importante. Não sei o porquê, mas lembrei-me de tudo isso hoje e fiquei pensando na Hilda Hilst em: “Para onde vão os trens, meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também para lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem, tu não te moves de ti.”

Poster Carne Doce na Casa do Mancha

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Ontem teve Show lindíssimo do Carne Doce pelo Prata da Casa na Choperia do Sesc Pompéia com um sem fim de músicas do disco novo, Salma rebolando até o chão em seu bailinho de favela particular e à parte a brincadeira séria que esta banda é, que coisa boa é ver a música autoral goianiense por São Paulo e pelo mundo.

Pela nostalgia do cenário alternativo em que me desenhei logo cedo no Estado de Goiás e pelo já recém completo 1 ano em que tive o prazer de desenhar o poster deles para o showzinho na Casa do Mancha, posto aqui esta carne-dulcíssima lembrança.

today is tuesday; email me on saturday

the secret of life is decisiveness
and to describe something
i see the distance and move immediately into it
now i am really alone
from here i know these things: that a hamster is a lonely fist
that my poems exist to dispel irrational angers, that i want to hold your face
with my face
like a hand
the secret of life is that i miss you, and this describes life
tonight my heart feels shiny and calm as a soft wet star
i describe it from a distance, then move quickly away

tao lin

As tais Cariátides de Agnès Varda

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‘Há [nas ruas de paris] mais nus em bronze que vivos, em pedra que de carne e osso’. Assim começa este curta metragem de 1984 escrito e realizado por  Agnès Varda. Narrado com poemas de Baudelaire e trilha sonora de Offenbach, é dedicado às Cariátides de Paris.

Ele está na íntegra neste link [francês] e vale ser visto em cada segundo de seus 11 minutos.

Poster Mac McCaughan – Casa do Mancha

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A convite de Mancha Leonel tive o prazer de desenhar o poster oficial para o que foi – abril de 2015 – um dos shows mais bacanas que já passaram pela casinha.

Eu, para ser bem honesta, estava muito mais ligada no que  McCaughan estava fazendo na produção musical da Merge Records e muito menos em seu trabalho solo pós SuperChunk, e portanto, sua vinda ao Brasil foi uma ótima oportunidade para tirar este atraso.

Me lembro de durante o processo criativo ter ouvido muito o Non Believers (2015) que é próprio seu primeiro álbum solo e o divulgado na turnê. Show lindo, McCaughan despretensioso porém enérgico, bem conectado com público e um poster orgulhosamente meu.

Barthes, sempre

“Rusbrock [personagem de Dostoievski] está enterrado há cinco anos; é desenterrado; seu corpo está intacto e puro (pudera! Senão não haveria história); mas: ‘havia apenas um pontinho no nariz que tinha um leve traço de decomposição’. Sobre a figura perfeita e como embalsamada do outro (que tanto me fascina), percebo de repente um ponto de decomposição. É um ponto mínimo: um gesto, uma palavra, um objeto, uma roupa, alguma coisa insólita que surge (que aponta) de uma região de que eu nunca havia suspeitado antes, e devolve bruscamente o objeto amado a um mundo medíocre”.

Roland Barthes em Fragmentos de um discurso amoroso

Finalista no 24º Opera Prima

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Foi com muita surpresa que recebi a notícia de que meu Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo estaria entre os indicados a concorrer no concurso Opera Prima.

Após passar pelas etapas regionais e chegar à nacional, tive a positiva de que meu trabalho Praça Matarazzo: Intervenção de Lazer Público na Avenida Paulista ficara entre os finalistas.

Eu desenvolvi este trabalho durante meus dois anos de intercâmbio na USP sob orientação de Milton Braga (MMBB) e Cláudia Garcia (UnB). Foi um período de muita pesquisa e enorme crescimento profissional e também pessoal pra mim.

O projeto consiste basicamente de uma Praça Molhada associada a um edifício de piscinas suspensas que privilegia o espaço público e o livre acesso ao público como forma de consubstanciar a democratização do lazer e e a humanização do espaço urbano.

 

Dois livros para quem gosta de decoração

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Decorative Arts  de Judith Muller foi um livro que comprei na livraria Travessa do Shopping Leblon há cerca de seis anos e nem imaginava diante de que tesouro eu me encontrava naquele momento. Ele está esgotado na editora e não foi traduzido para o português mas para quem quiser comprar, vi que tem vários disponíveis no Amazon.

O livro é um rico apanhado de peças e estilos de época e traz tanto informações sobre os objetos individualmente quanto de como estes se inserem em seu contexto histórico. Ele está organizado por sessões cronológicas e dentro destas, por categorias de usos, estilos e locais. Exemplo disto são os capítulos de estamparias inglesas do período vitoriano, o de luminárias do art nouveau francês, o mobiliário Bauhaus ou ainda o design de utensílios italianos do pós modernismo.

Além de densamente ilustrado e de possuir textos apuradíssimos feitos por quem pesquisa e entende seriamente do assunto, ele que pode ser lido inteiro ou usado como manual de consulta e é uma peça de decoração lindíssima por si só, destas merecedoras de ficar em destaque na sua mesa de centro.

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The Perfectly Imperfect Home de Deborah Needlemen foi outro destes achados casuais. Este encontrei na Livraria Cultura da Avenida Paulista há não mais que dois anos. Está igualmente esgotado no fornecedor mas disponível no Amazon e não foi traduzido para o português. É um livro delicioso de se ler do início ao fim. Está categorizado por ambientes e mais que um manual de como decorar e tirar partido de cada móvel e objeto da casa, é também um delicado manual de comportamento.

Como o próprio título sugere, ele defende que a casa deve ser sim bem organizada e pensada mas precisa trazer um quê de imperfeições e desorganização pois é resultado da rotina e deve acima de tudo servir ao conforto e bem estar dos moradores.

No livro é possível encontrar dicas de como, por exemplo, organizar um quarto para hóspedes  sem se esquecer de colocar uma muringa com água no criado mudo e um chocolatinho com bilhete de boas vindas no travesseiro do seu convidado. O capítulo de luminárias e abajoures é também imperdível. Nele aprendi entre outras coisas que a altura ideal para uma luminária de pé ao lado de uma poltrona de leitura deve ficar abaixo do nível dos olhos do leitor e acima  do livro, pois, afinal, queremos iluminar a superfície de leitura e não o topo da cabeça da pessoa.

Outro aspecto notável para o qual chamo atenção é para as ilustrações: belíssimas aquarelas de ambientes reais. Acerca delas há um indíce remissivo ao final  que dá  informações de em que cidade/local cada um destes ambientes se encontra.

 

Cadeira São Paulo

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Minha história com a cadeira São Paulo começou há cerca de 5 anos quando me mudei para meu último apartamento, na Bela Vista. Ele veio acompanhado de alguma mobília e havia na mesa de jantar quatro cadeiras pelas quais, confesso, não caí de amores à primeira vista mas que, ao longo do tempo, pela resistência, pelo conforto e sim por serem muito graciosas, ganharam todo o meu afeto.

Certo dia em uma visita meu caro amigo Daniel Dubugras levantou a hipótese de que se tratava de design  de Carlos Motta e, ao procurarmos por sua assinatura ali estava, queimada abaixo do assento, uma bela estrelinha sublinhada pelas iniciais CM. Tratava-se sim de uma legítima Cadeira São Paulo.

Desenhada no início da década de 80, trata-se de uma cadeira de madeira com assento e espaldar formicados. Planejada segundo um inteligente sistema de encaixes, é produzida ainda hoje e entregue ao consumidor desmontada em uma caixinha, fácil de transportar e mais ainda de montar.

Para saber mais, segue o site do designer [aqui] que merece por inteiro uma visita cuidadosa e recomendo se faça atenção também para a cadeira Asturias, da qual falo mais em outra oportunidade.

 

Parede com Efeito Cimento Queimado

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A ideia na pintura deste pequeno escritório era ter uma parede com acabamento mais irregular com aquela cara de cimento queimado ou como se tivesse parado a obra na fase de reboco. Após pesquisar diversas técnicas possíveis para se chegar a este resultado e que fossem simples o suficiente para que eu mesma pudesse executá-las, encontrei a Suvinil Efeitos Internos – Efeito Camurça na cor Prata Envelhecido e eu conto aqui como foi a execução desta tarefa, quais dificuldades eu encontrei e como fiz para contorná-las.

O processo todo levou menos de 40 horas para ser executado e fiz em um fim de semana. A parede contava com uma pintura acetinada branca já bem sujinha e com alguns  furos. O primeiro passo foi o típico de preparação de qualquer pintura: aplicar massa corrida nas irregularidades e lixar toda a superfície, jornais no piso, fita crepe protegendo os roda-pés, esquadrias e também o encontro da parede com o teto [o qual decidi não pintar].

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Seguindo o passo a passo do fabricante [aqui] , foi necessário preparar uma camada base com Suvinil A Clássica na cor branca.  A parede que eu desejava cobrir tinha menos de 6m² e pelo cálculo de rendimento sugerido uma lata de litrinho seria o suficiente para cobrir a toda a superfície, e até foi, porém, ao utilizar o rolo grande de lã de carneiro, metade do produto ficou retido nele e não tive o suficiente para aplicar duas demãos. Portanto, minha dica é que ou se compre uma quantidade maior do produto base ou se utilize um rolo pequeno e menos absorvente. A preparação desta base é uma fase muito importante e não se pode prescindir da mesma, pois, é ela quem vai impermeabilizar a superfície e dar aderência ao produto de efeito final.

O tempo de secagem da base Suvinil A Clássica é de cerca de oito horas. Aproveitei este tempo ocioso,  e recomendo que você faça o mesmo, para fazer paralelamente uma superfície de teste. Eu utilizei uma plaquinha de mdf na qual apliquei igualmente a base e fiz várias faixas de aplicação do efeito propriamente e fui variando tempos de secagem, espessuras de pincel e diluições diversas.

Particularmente achei confusas as instruções do fabricante. Ao que ele sugere, após aplicar a primeira camada de Suvinil Efeitos Internos – Efeito Camurça com rolo uniformemente em toda a parede, eu deveria imediatamente sem aguardar a secagem, já fazer pinceladas irregulares por cima (verticais, horizontais e em ‘X” sobrepostos)  com uma trincha de 3″. Acontece que seguindo esta orientação a minha superfície de teste não ficou exatamente manchadinha como eu desejava.

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O que funcionou pra mim, e destaco aqui que este post não é patrocinado e foi de minha inteira responsabilidade a alteração na técnica, foi esperar que essa primeira camada uniforme do efeito (aplicada com o rolo e diluída em 10% de água) secasse ao toque (o que aconteceu em cerca de meia hora) e aí sim apliquei as pinceladas irregulares do mesmo produto (agora com a trincha, porém diluído com 15% a mais do volume de água). Como eu desejava que ficasse ainda mais manchado, esperei novamente que a superfície secasse mais meia hora e apliquei mais uma camada de pinceladas irregulares agora diluindo o produto na proporção de 20% de água e asssim fiquei muito satisfeita com o resultado.

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HERE -Richard McGuire

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Fui apresentada ontem a esta Graphic Novel apenas que fantástica. Eu sei que sou eu própria, a foto do entusiasmo na wikipedia, mas, estamos falando de um desenho/história que é um furo no espaço-tempo.

Trata-se de um livro em que todas as páginas são uma mesma sala, sob o mesmo ponto de vista e na qual as histórias ocorridas nela vão dando saltos no tempo, mas, que, surpresa: nela parecem janelas, furos temporais para visualização de cenas ocorrendo em anos seguintes ou passados.

Para os arquitetos, o que o autor faz com este livro, é o correspondente ao advendo da Viewport no AutoCad, que foi quando o sofware nos permitiu desenhar  em um espaço infinito, porém, trabalhar como que numa folha de papel sobreposta a este espaço e, nela abrir janelas, quantas fossem e em que escala fossem, para vermos o que havia embaixo.

Neste link  estão parte dos estudos feitos para o livro, e para quem não conhece, já pode-se ter uma boa ideia do que vem a ser esta peça de arte.

 

Drinkfinity Lab: nossa nova casa

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Aconteceu nesta terça 24 de junho a inauguração do novo lar da comunidade de betas Drinkfinity, da qual orgulhosamente faço parte. A casa além de espaço de trabalho pretende unir pessoas com  pensamento focado na sustentabilidade e no consumo consciente de água em seus projetos de inovação. Nos próximos meses o Lab receberá um sem fim de eventos abertos a toda a comunidade.

O projeto de arquitetura é de Guto Requena Estudio, ficou sim a nossa cara e como toda boa obra: fala por si. Quem quiser saber das novidades pode cadastrar-se no site http://www.drinkfinity.com/en/comingsoon/ curtir a fanpage no facebook [aqui] e também acompanhar/utilizar as hashtags #drinkfinity #drinkfinitylab no facebook e no instagram.

Bordando a capa do Goo

 

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Work-in-progress : Goo em ponto cruz.

Goo, lançado em 1990, é o sexto álbum de estúdio do Sonic Youth. A capa do disco, ilustração de Raymond Pettybon,  estampa o casal Ian Brady e Myra Hindley conhecidos por ‘psicopatas do pântano’ e responsáveis pelo assassinato de cinco adolescentes na década de 60 no Reino Unido.

Raybon Pettybon que entre outras coisas é também reponsável por capas e flyers  da norte-americana Black f Flag, trabalhou nesta ilustração com base em uma foto do casal feita por um paparazzi no banco traseiro de um veículo.

À guisa de experimentar novos caminhos na minha produção gráfica, que ultimamente vem se resumindo a croquis rápidos em grafite, nanquim e aquarela, me ocorreu vetorizar a imagem e transpor o resultado para um bordado em ponto cruz.

Este trabalho tomou cerca de quarenta minutos diários de dedicação por um mês e meio, o que eu fazia durante meu horário reservado a ver/ouvir noticiários.

O primeiro quadro do lote, que será de 7 peças, foi emoldurado em tela de 25x25cm e feito como presente para minha preciosa amiga Letícia Ribeiro. Os demais serão executados com toda a calma e amor do mundo e quando disponíveis você poderá adquiri-lo aqui.

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